Quem conhece sabe; e vice-versa.
Educação Ambiental. A seca que EU conheço como ninguém é artificial.
Quem conhece o problema conhece a solução.
Em 1.958 eu tinha 15 anos de idade. Foi um ano considerado seco - não houve produção agrícola e os açudes não sangraram. Parece-me que aquele ano foi inserido no mais longo período de estiagem no semiárido nordestino; em 1.957 a estação chuvosa foi de janeiro a junho, um bom inverno; de julho de 1.957 a novembro de 1.958, 17 meses, a chuva precipitada nessa área não deu para molhar a terra; assim não tem pasto para alimentar o gado, falta água para os animais beberem, lembrando que os grandes açudes foram construídos nas décadas 60 a 80. Hoje, todos esses açudes têm água salobra ou salgada tolerada pelos animais (beber) e aceitável para algumas gramíneas (pasto do gado).
O açude, barragem com água salgada, são paliativos. A água para o homem beber e gastar nas atividades domésticas vinha das cacimbas de água salobra escavadas na areia dos rios temporários, ou dos açudes, chamados barreiros, que armazenam água por até 24 meses de estiagem, água suja, barrenta, porém doce. O "comer" do flagelado nordestino vinha das regiões produtoras de alimentos - Sudeste e Sul, que naquele tempo (1.958) ainda não conheciam a seca. Isto é, embora no Brasil a seca seja um problema cultural, irreal, a cultura da seca nordestina ainda não tinha "contaminado" aquelas regiões. A seca e as enchentes no Brasil não têm nada a ver com escassez ou excesso de chuvas.
Dento da Região Nordeste há 2 sub-regiões que também não conheciam, ainda, a seca - o nordeste amazônico com 280.000km² e a zona da mata nordestina com 90.000km², terra úmida e fértil, com oferta de chuvas de 2.000mm anuais. O flagelado de 1.958 recebia o alimento enviado pelo Governo Federal, com Sede no Rio de Janeiro.
As Regiões Norte e Centro-Oeste, grandes, úmidas e férteis ainda não tinham sido "descobertas" como produtoras de alimentos.
Para manter o flagelado ocupado (evitando o êxodo) e comendo, foram criadas a frentes de emergência para flagelados nos Estados CE-RN-PB e nas pequenas áreas secas dos Estados PI, BA, SE, AL, PE;
O Maranhão, então Eldorado do Nordeste, não conhecia a seca; trabalhava¬-se os 5 dias úteis da semana para receber 6kg de gêneros de primeira necessidade; nossa missão era construir uma estrada de terra ligando duas cidades do sertão do RN, que de tão necessária não foi concluída até hoje; as mercadorias básicas eram feijão, farinha de mandioca, arroz e charque (jabá); quando vinha açúcar e óleo comestível tirava-se a farinha e o arroz da "feira". O feijão, velho, não cozinhava; pela primeira vez vi arroz com gorgulhos; a carne de charque, velha e mofada, tinha de ser escaldada em água fervendo antes de ser consumida assada, ou cozinhada com o feijão, pois do contrário tinha-se uma disenteria.
A água de "beber", salgada e barrenta vinha em um carro-pipa, a 30km de distância; o caminhão saía às 7 horas da manhã e quando voltava 5 horas depois a água do tanque parecia ferver e assim era depositada em tambores de ferro de 200 litros distribuídos no trecho da estrada em construção, quase sempre embaixo de árvores desfolhadas que serviam, apenas, de ponto de referência. A sede nos obrigava a beber essa água com temperatura acima de 50°C. e 4 meses depois do início dessa frente de emergência metade do efetivo humano havia contraído pneumonia e até tuberculose. O banho, com essa água, só era permitido no final da sexta-feira quando largávamos o serviço para levarmos, para casa, o que sobrava da "comida" para os familiares; muitas vezes deixávamos de comer no serviço para ter o que levar para casa, onde 4 e até 10 pessoas dependiam do alimento distribuído na frente de emergência para uma pessoa.
Hoje, na condição de estudioso dos problemas socioambientais do Nordeste, sei que a seca nordestina é fictícia, criada e alimentada pelos industriais da seca, dirigentes políticos, demônios que se matem no poder em cargos vitalícios ou hereditários, graças à miséria, ignorância do “operário” da seca. 95% dos brasileiros acreditam que há, de fato, uma seca causada por escassez de água doce, escassez de chuvas, porque a literatura ambiental brasileira, cópia dos USA, é um festival de bobagens traduzida na letra do samba do crioulo doido.
Em nenhum livro de geografia consta que 6 rios caudalosos ou perenes desperdiçam, em média, no Mar do Nordeste, 400.000.000m³ de água doce por dia.
Já se fala em seca nas regiões Norte, Sudeste e Sul; que maldição!
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1Terezinha Gnoatto
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