Técnicas agrícolas dos Janduis.
A nação indígena
janduis, família gês, grupo tapuias,
habitava o vale do rio Açu e de seus afluentes no RN, desde a microrregião
Seridó PB/RN até a foz do Açu em Macau-RN. O janduí, que significa ema pequena,
seriema, era um povo de pele clara se comparada à pele dos outros índios,
inclusive no RN. A designação “tapuia” ou bárbaros era comum a todos os índios
do interior das capitanias PE/PB/RN/CE, e provavelmente sem laços sanguíneos.
Durante o Brasil Holandês de 1.630 a 1.654 A Companhia das
Índias (holandesa) ocupou a zona da mata e litoral desde o atual Estado de
Sergipe até o Estado da Paraíba, região
açucareira que o Conde Nassau incentivou e promoveu o desenvolvimento dos
engenhos de açúcar, aguardente, mel, rapadura, mas para manter a demanda
alimentar da população da sua Mauricea(Recife), João Maurício de Nassau Sigien
precisava de muita carne bovina que sua possessão não tinha; a zona da mata,
pelas próprias e exclusivas condições climáticas e de solo (no NE) não é
favorável à pecuária(é ideal para a criação de búfalos). Na época o maior
rebanho bovino do Brasil estava na Capitania do RGN, exatamente no sertão, aonde
os colonos, fazendeiros, viviam harmonicamente com os Janduis.
Em 1.634, Nassau designou
o alemão judeu Jacob Rabbi para ocupar a capitania do RN, que tinha alguns
engenhos de produção de açúcar(limitação imposta pela pequena zona da mata RN
com pouco mais de 2.000km²) e estava praticamente abandonada pelo seu donatário
português, mas a maior preocupação de Nassau era a amizade com o rei Jandui,
chefe dos janduis que era amigo dos(poucos) fazendeiros da área, mas inimigo do
governo português desde o RN a PE. Rabbi viveu muitos anos com os janduis
aprendendo sua língua, seus costumes, mas ensinando-lhes muitas coisas, e foi
capaz de comandá-los em vários motins, crimes, invasões, guerras no sertão. A
amizade do Conde Nassau com Jandui era tão grande que a bandeira da Companhia
das índias tinha 4 capitanias representadas pela produção de açúcar, uva, café,
mas tinha também o símbolo da capitania do RN representada por uma seriema –
jandui.
Na História do Brasil Holandês, de Câmara Cascudo, há
registro de que Jandui viajava, à
cavalo, pelo sertão, de Açu até a cidade Mauricea, onde era recebido por Nassau
com toda pompa. Os janduis participaram de muitas batalhas contra os
portugueses e certamente a batalha dos Guararapes 1.648/49 teria outro desfecho
se os holandeses ainda contassem com os guerreiros janduis( O conde Nassau já
tinha ido embora e o rei Janduí tinha morrido).
Em 1688 o bandeirante Domingos Jorge Velho empreendeu combate
contra os janduis e o máximo que
conseguiu foi dissipá-los pelos sertões, e hoje 40% do norteriograndense
(interior do RN) tem sangue jandui. O rei jandui foi substituído pelo rei
Canindé.
No Município de Açu existe o maior reservatório natural de
água do sertão RN (e provavelmente sertão do NE) – a lagoa do Piató, que
suportava anos seguidos de pouca chuva, sem secar, onde o rei jandui ficava a
maior parte do tempo. Naquele tempo o rio Açu era abastecido por muitos brejos
de altitudes e permanecia com um filete de água corrente no verão de até 10
meses(sem chuvas) e muitos poços cavados pelas enxurradas na areia do leito do
rio, mas água salobra ruim para se beber e imprópria para as plantas. Já na
lagoa de Piató a água era doce e relativamente abundante para a
agricultura(vazante); Vários olhos d água abasteciam essa lagoa. Nas secas da
década de 40 ( até 400L/m² de água das chuvas)as pessoas do sertão RN arribavam
para junto da lagoa do Piató, o que aconteceu com os meus pais de 1.941 a
1.943, anos considerado seco, aonde EU nasci em 1.943. Embora não esteja(ainda)
registrada na história, foi encontrado junto à lagoa, e confirmada pelos
antigos descendentes dos tapuias(meus bisavós maternos, por exemplo)contados de pais para filhos, a
existência de um sistema de irrigação, do tempo dos janduis, não conhecido no
Brasil de então, que consiste na construção de jarras de argila queimada, potes
de barros como se fala por aqui. O preparo do barro é feito colocando-se certa
porcentagem de areia grossa com a finalidade de que o pote vai verter água pela
porosidade grossa do corpo; No verão, sem chuvas, retira-se a água doce da
lagoa do Piató e deposita-se nos potes, no chão, na área do roçado, com os
potes distanciados 2 ou 3 metros entre si, plantando-se junto(digamos um metro)
do pote(e ao redor) lavouras como feijão, batata doce, mandioca que produziam
perfeitamente com a umidade do chão, mantida pela água vertida nas porosidades
dos potes de barro. Essa técnica agrícola provavelmente foi transmitida aos
janduis no contato com os holandeses que não eram agricultores, mas entendiam
tudo de armazenamento e distribuição de água. Na Companhia das índias tinha
gente de vários países europeus.
Uma coisa temos certeza; não é uma idéia portuguesa.
Outra técnica agrícola era desenvolvida na plantação de
feijão e batata doce na areia do rio Açu+. Como se sabe a areia do rio é areia
lavada, desprovida de minerais, mas como a areia do leito do rio está sobre a
rocha matriz, impermeável à água, têm-se, durante o verão, muita água
proveniente das chuvas armazenada na areia, lençóis freáticos. A camada de
areia lavada no leito do rio Açu pode chegar a 10 metros de espessura. Para fazer
sua lavoura no rio(ainda hoje é assim) do sertão colocavam-se em cada cova da
plantação 10 litros de estrume de animais. Os janduis não criavam gado e quase
sempre conseguiam estrume com os fazendeiros portugueses do sertão RN, mas
quando os janduis estavam em guerra com os civilizados da área o estrume da
plantação tinha de ser próprio: todo mundo fazia suas necessidades fisiológicas
no mesmo local para ter material para
fertilizar a areia do rio e assim poder plantar lavoura no verão. Segundo
relato dos mais velhos a melhor produção acontecia com estrume humano. Hoje se
faz a plantação de feijão e batata doce na areia dos rios do sertão
colocando-se estrume de gado bovino, ovino, galinha, caprino, mas a água nos lençóis da areia dos rios está
secando, não só pela redução na oferta de chuvas(do ano 2.000 para o ano
2.009 a oferta de chuvas foi boa), mas
também por que aumentou a procura por essa água, ação das intempéries.
Conseqüentemente a água ficou mais salgada.
A principal causa da salinização da água nos rios do sertão
não é terreno cristalino, não é cloreto de sódio, mas sim nitrato de sódio,
salitre, abundante no terreno argiloso(mas não no terreno arenoso) das várzeas
dos rios, lembrando que nitrato de sódio é ácido nítrico, formado na atmosfera
(e trazido para o chão pelo ar e pela água das chuvas) por agentes poluentes
gerados nas atividades do homem na litosfera, mais o sódio que se tornou
abundante no sertão com a eliminação, com fogo, da vegetação, principalmente
nas várzeas dos rios que tinha vegetação exuberante, de grande porte.
Obs.: a correção do salitre ácido nitrato de sódio pode ser feita
com carbonato de cálcio(álcali).
No RN existiu outra tribo famosa no Século XVII, Estamos nos
referindo aos potiguares que ocupava o
litoral e zona da mata de Canguaretama a
Touros. Potiguar significa comedores de camarões. Potiguar é quem nasce na
Grande Natal. O chefe dos potiguares, o Poti, foi batizado na Espanha com o
nome de Antônio Felipe Camarão. Foi nomeado pelo Rei Espanhol(dominou o Brasil
de 1.580 a 1.640) Governador dos índios do Brasil com seu palácio em Meretiba,
hoje municípios de Paudalho e
Camaragibe-PE. Poti nasceu e viveu até adolescente no bairro que tem o seu nome
Felipe Camarão, em Natal. Por volta de 1.628 foi para Olinda-PE; Com seus
bravos guerreiros potiguares(e outros índios do NE) combateu os holandeses em
PE. Por ser amiga dos portugueses a tribo potiguar era inimiga dos janduis, mas
há registro da participação dos potiguares e janduis, juntos, em dois crimes bárbaros em engenhos da zona
da mata - RN, inclusive a morte de várias pessoas durante uma missa em uma
capela, crime de cunho religioso, já que os holandeses eram protestantes e
havia muitos judeus entre os integrantes
do Brasil holandês. Para os índios não
havia diferença em se adorar o Sol, a lua ou um deus desconhecido.
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