O homem da terra – a parteira do Nordeste.
O ofício de parteira, prática, do Nordeste surgiu ainda quando o Brasil era colônia de Portugal. De acordo com Gilberto Freire, o homem português que veio para colonizar o Brasil era um excelente reprodutor; o Brasil precisava ser povoado. Hoje sabemos que o português que veio para o Brasil nos Séculos XVI e XVII era degredado ou aventureiro, sem família, sem ética, imoral. O Brasil era uma terra inóspita, selvagem, desconhecida, com muitas doenças e parasitários; vinha para o Brasil quem não tinha nada a perder em Portugal, e ainda com boas chances de ficar rico, poderoso. No Brasil existiam as índias que não tinham regra de relação sexual, deitando-se com o homem branco, em troca de qualquer bugiganga; depois veio a mulher africana, com uma cultura ainda mais libertária neste aspecto. O homem branco português mantinha relações sexuais com mulheres de todas as cores do Brasil; o preconceito de cor desaparecia na cama, na rede e na esteira, surgindo, assim, o mameluco nas aldeias, os mulatos nas senzalas e os mestiços do cruzamento do homem branco com mulatas e mamelucas. O parto da índia era natural, a exemplo dos demais primatas, enquanto as velhas índias, mais experientes, ficavam em torno da parturiente dando palpites. O parto da mulher africana, mais evoluída culturalmente, era assistido pela parteira, mulher experimentada no ofício, normalmente acima dos 40 anos de idade.
Mesmo casado, o português colonizador do Brasil tinha seu harém, normalmente adolescentes de cor negra que viviam na senzala ou mesmo na Casa Grande. Toda fazenda do sertão e todo engenho da zona da mata tinham uma ou mais parteiras entre os serviçais negros. O oficio de parteira passava de mãe para filha(s) – era o ofício de “pegar menino” mesmo que o nascituro fosse do sexo feminino. A mulher branca portuguesa era mais parideira do que as mulheres africanas e índias; tinha o parto assistido pela mulher negra, que às vezes era escolhida com exclusividade para atender a mulher do Amo-senhor. Se a mulher branca era fraca de leite (para amamentar o filho) escolhia-se, também entre as mulheres negras, a ama de leite, ou mãe de leite; a parteira era também chamada de mãe de umbigo (ou de imbigo) por ter apartado o cordão umbilical dos recém-nascidos; as mães de leite e de umbigo eram muito queridas e respeitadas por todos, pois afinal os filhos do senhorzinho vieram ao mundo por suas mãos e dedicação. Na Bahia do Século XVII existiu um religioso que batizou mais de 600 filhos com o seu sobrenome, todos mestiços e por isso foi duramente castigado pelo tribunal da Inquisição da Igreja Católica. Hoje a maioria das parteiras que trabalham no Nordeste, lotadas nos postos médicos, casa de saúde e maternidades tem instrução em nível médio, mas há casos em que somente o médico obstetra pode resolver. Na época da colonização do Brasil a parteira prática resolvia tudo. Uma curiosidade é que a parteira normalmente era também rezadeira, benzedeira; se o parto era complicado, difícil, só Deus poderia ajudar, no caso.
Educação ambiental é também ciência social;
Transcrito do Informativo O Veredicto.