O Janduí – o índio meio-agricultor.
No território pertencente, hoje, ao RGN existiram 2 grandes e famosas tribos indígenas – os potiguares(comedores de camarões) habitavam a região, junto ao Mar, compreendida entre os municípios de São José de Mipibu e Ceará-Mirim, hoje, Grande Natal e todas as cidades metropolitanas – Panamirim, Macaíba, São Gonçalo do Amarante. Seu chefe, o índio Poti foi batizado (já adulto) cristão novo na Espanha, com o nome de Antonio Felipe Camarão.
Durante o período do Brasil holandês foi nomeado, pelos reis da Espanha, governador geral dos índios do Brasil, com seu palácio em Meritiba –Paudalho-PE, local ainda hoje conhecido por “aldeia”. Potiguar é, portanto, quem nasce na Grande Natal. Quem nasce no interior do RN é riograndense do norte.
A outra tribo, os janduís, habitava no vale do Açu (e seus afluentes) dentro do RN. Por ser um povo arredio, selvagem, a história da época classificava-os como bárbaros tapuias (índios do interior do Continente).
Na época do Brasil holandês – domínio da zona da mata de SE a RN – 1630 a 1.654, os janduís eram chefiados por “janduí”, que significa ema pequena ou seriema. Foi a tribo indígena mais estudada e retratada pelos cientistas trazidos da Europa, para o Brasil, pelo chefe da Companhia das Índias, o Conde alemão João Maurício de Nassau Sigien, a serviço da Holanda. A ocupação do RN, pelos holandeses, teve uma razão – a amizade com os janduís. Os janduís, a exemplo dos holandeses, eram inimigos dos portugueses colonizadores do Brasil e por este motivo mataram, durante a missa, os ocupantes de 2 capelas em Açu e próximo a Natal, provavelmente a mando dos holandeses protestantes que tinham, no RN, um chefe judeu. Por causa desse massacre ocorrido nas capelas o governo espanhol designou o bandeirante Domingos Jorge Velho para atacar e dizimar os janduís, no seu território, escapando apenas os caboclos (índios meio-civilizados), responsáveis, geneticamente, pela formação de grande parte da população do interior do RN.
No vale do Açu, sertão RN, a estação chuvosa de 4 meses e 800mm, verão de 8 meses, estiagens periódicas de até 11 meses, obrigaram os janduís a fazer agricultura, provavelmente, os únicos no Brasil de então. A pesca e a caça, proporcionais ao clima fragilizado, não davam para alimentar suficientemente uma tribo tão numerosa.
Junto ao Mar, no litoral e na zona da mata RN havia oferta natural de alimentos, mas essa área tinha outros donos índios, amigos dos portugueses. Os janduís faziam sua agricultura nas várzeas dos rios, as melhores terras agrícolas do semiárido (hoje salinizadas). O rio Açu, o maior do RN, permanecia com um filete de água no leito no verão e na seca, abastecido pelos brejos de altitude, dos pés das serras. Alguns dos seus afluentes secavam no verão, mas na areia do leito permanecia um lençol freático de água salobra tolerável pelas plantas, onde se faziam cacimbas, água para se beber e para irrigar a lavoura no verão. Nas estiagens prolongadas a tribo se concentrada junto do rio Açu, com maior oferta de água. Nesta área foram encontrados vestígios de um sistema de irrigação que pode ser comparado aos modernos sistemas de irrigação por gotejamento: construíram potes (jarras) de argila queimada (em fornos ou fogueiras) com material poroso (barro+areia grossa), fazendo com que a água depositada no pote vertesse naturalmente no chão, proporcionando uma irrigação permanente de uma área de 6 a 8m², onde se plantava a lavoura; os potes encontrados tem capacidade para armazenar (cada um) 60 litros de água, o que nos faz supor que era suficiente para manter a umidade do solo(nessa área) por um tempo suficiente para a planta se desenvolver e produzir, no caso da batata doce, 60 dias; alguns feijões e favas cultivados pelos janduís produziam grãos verdes ( famoso feijão verde) com 75 dias após o plantio.No verão os janduís também plantavam na areia úmida do leito dos rios, mas como a água freática é salobra e a areia do rio é desprovida de minerais para nutrir as plantas, os janduís colocavam, em cada cova de lavoura, 10 litros de estrume de animais ou o seu (próprio).Normalmente o índio fazia suas necessidades fisiológicas na “latrina” próxima a maloca. Muito estrume bom para a lavoura. Produzindo ciência ambiental resgatamos parte da história do RGN. Isto é cultura ciente e consciente.
Transcrito do Informativo O Veredicto, desta mesma Fonte.
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