sábado, 3 de dezembro de 2022

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  Até final da década de 60 era muito difícil um jovem do interior do Nordeste fazer um curso superior. As faculdades, pouquíssimas, estavam nas Capitais. Mesmo que a família do jovem fosse rica, tudo era investido na compra de terra e gado, para que a herança fosse grande e todos os descendentes da família permanecessem ricos até o final dos tempos. Com relação às meninas, nada de estudo – bastava ser parideira para ter muitos filhos; mas na minha terra havia um doutor; tempos depois eu soube que ele era formado em agronomia, contrariando a vontade da família que o queria advogado e político. A família do Dr. Zezinho era a mais abastada da região; seu pai tinha sido


 



 


prefeito desse município e um tio seu era deputado estadual, ambos portadores do diploma do ginásio, expedido na própria cidade da qual eram os donos, mas o Dr. Zezinho os considerava analfabetos e dizia ser o único doutor da família. A única ocupação do doutor Zezinho era beber o dia todo, todos os dias; bebia conhaque e Whisky, sempre acompanhado de 3 amigos que bebiam somente cachaça; o doutor Zezinho pagava tudo. De tanto tomar aguardente um dos seus amigos faleceu; o enterro seria no dia seguinte ás 10 horas da manhã. Dr. Zezinho prometeu a todos que estavam no bar, que no dia seguinte estaria sóbrio para acompanhar o enterro do amigo; dia seguinte, logo que o bar abriu as portas o  Dr. Zezinho e seus dois amigos de copo encheram a cara até a hora do enterro.O caixão era conduzido por 4 homens que se revezavam durante o trajeto até o cemitério; o Dr. Zezinho e seus dois amigos ficariam para o último trecho do percurso – queriam entrar no cemitério levando o amigo.


O Doutor Zezinho pegou na “asa do caixão”, sentiu que o peso era maior do que imaginara, mas permaneceu firme até á capela, dentro do cemitério; na hora que o caixão ia descer á cova pediram ao Dr. Zezinho que dissesse algumas palavras em homenagem ao amigo; botou as mãos para trás, andou para um lado, para o outro, em silêncio, e de repente parou, deu uma olhada em todos que estavam ali e disse, apontando para o caixão: se até aqui nós o trouxemos, daqui para frente o diabo que o carregue. As pessoas saíram em disparada pela porta do cemitério, só ficando ele, os amigos e o coveiro.
Educação ambiental é literatura, é ciência social.

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