Frente Parlamentar Ambientalista do Rio Grande do Norte
O retorno do El Niño em 2023: contexto e consequências
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A cada dois a sete anos, o oceano Pacífico equatorial fica até 3 °C mais quente (o que conhecemos como El Niño) ou mais frio que o normal (La Niña), desencadeando uma cascata de efeitos sentidos em todo o mundo. Esse ciclo é chamado de El Niño Oscilação Sul (ENSO).
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Normalmente, todo evento de El Niño costuma ser seguido por um La Niña, e vice-versa, com alguns meses de condições neutras entre os dois fenômenos. A mudança na temperatura da superfície do mar, associada aos eventos ENSO, pode parecer imperceptível, mas é mais do que suficiente para interromper os padrões climáticos globalmente.
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Não é de se estranhar que as condições de La Niña durem dois anos consecutivos, sendo mais raro ocorrer um La Niña de três anos, como acontece desde 2020. A Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA (NOAA) informou que o oceano Pacífico equatorial retornará ao seu estado neutro entre março e maio deste ano, e é provável que condições de El Niño se desenvolvam durante a primavera e verão do Hemisfério Sul.
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Dada a forte influência do ENSO nos padrões globais de precipitação e temperatura, o que o mundo pode esperar do próximo evento de El Niño?
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Durante um El Niño, o oceano transfere parte do excesso de calor e umidade para a atmosfera, tipo quando você cozinha macarrão e sua cozinha fica cheia de vapor. Além da tendência de aquecimento global, um forte El Niño pode adicionar até 0,2 °C à temperatura média da Terra. O ano mais quente registrado na história foi 2016, durante um El Niño particularmente forte.
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Um ano de La Niña também pode quebrar recordes de calor. A tendência de aquecimento imposta pelo acúmulo crescente de gases de efeito estufa, na atmosfera, pode mascarar o efeito de resfriamento dos processos naturais.
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Como o Planeta já aqueceu cerca de 1,2 °C, se comparado com os tempos pré-industriais, e o El Niño adiciona mais calor à atmosfera, é possível que o aumento da temperatura da Terra exceda temporariamente o limite de 1,5 °C, previsto pelo Acordo de Paris, algum tempo depois do pico do El Niño em 2024, embora seja muito cedo para saber o quão forte será esse próximo evento.
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O Nordeste brasileiro teve três anos de chuvas próxima da média, devido a condições prolongadas de La Niña. Durante o El Niño, espera-se o contrário: menos chuva, temperaturas mais altas e maior risco de incêndios, especialmente durante o inverno e a primavera no Hemisfério Sul.
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Dada a proximidade com o Oceano Pacífico equatorial, o clima sul-americano é significativamente perturbado sempre que ocorre um evento de El Niño, com inundações nas costas oeste do Peru e Equador, enquanto há seca na Amazônia e no Nordeste, onde as consequências da quebra de safra podem repercutir em todo o continente.
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Durante os eventos de El Niño, a queda da precipitação e o aumento da temperatura na Colômbia têm sido associados a surtos de doenças, transmitidas por insetos, como malária e dengue. Temperaturas mais altas, durante o El Niño, aumentam as taxas nas quais os mosquitos se reproduzem.
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Em outros lugares, durante um El Niño, a floresta amazônica seca e o crescimento da vegetação diminui, para que menos CO₂ seja absorvido da atmosfera. Essa tendência é repetida nas florestas tropicais da África, Índia e Austrália.
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Compreender as complexidades do sistema climático é semelhante a tentar montar um grande quebra-cabeça . Os oceanos conversam entre si e com a atmosfera, que ao mesmo tempo se alimenta do oceano. Ainda não há certeza de como o El Niño se comportará no futuro, mas seus efeitos provavelmente serão amplificados pelas mudanças climáticas, em diferentes regiões do mundo.
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