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ANA ESTELA DE SOUSA PINTO
DE SÃO PAULO
MAURO ZAFALON
COLUNISTA DA FOLHA
DE SÃO PAULO
MAURO ZAFALON
COLUNISTA DA FOLHA
11/04/2017 02h00
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O preço dos alimentos, principal
motor para a rápida desaceleração da inflação em
2017, pode passar de herói a vilão no final do ano.
Em seu relatório mais recente, de
março, a agência americana que monitora o risco de fenômenos climáticos globais
mais que dobrou a probabilidade de que ocorra El Niño a partir de agosto.
Caracterizado por um aquecimento
anormal das águas superficiais no oceano Pacífico, o El Niño afeta as chuvas e
a temperatura no mundo todo, prejudicando a produção de alimentos -e, assim,
elevando os preços.
Editoria de Arte/Folhapress
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Segundo a Administração Oceânica
e Atmosférica Nacional (NOAA, na sigla em inglês), do governo dos EUA, o risco
de que ocorra o fenômeno neste ano passou de 29% em dezembro do ano passado
para 70% no último mês.
Se a previsão se confirmar e o
efeito no clima for relevante, os preços podem começar a subir em novembro, diz
a economista Iana Ferrão, responsável por análise de inflação no banco Credit
Suisse.
"O risco é maior para o ano
que vem. Se no final do ano as chances de quebra de safra subirem, isso pode
afetar o trabalho do Banco Central."
EFEITO NOS
JUROS
O comportamento da inflação
baliza as decisões do BC sobre a Selic, a taxa de juros básica da economia: a
autoridade monetária fixa uma meta para o IPCA do ano e altera os juros se o
índice estiver se desviando dessa meta.
Quando a alta de preços se
acelera, o BC eleva a taxa Selic. Quando a inflação perde fôlego, o BC reduz os
juros.
Esse segundo caso é o que vem
ocorrendo desde outubro do ano passado, e com mais intensidade neste ano.
Depois de dois cortes de 0,75
ponto, as expectativas são de que haja redução de pelo menos 1 ponto na reunião
que começa nesta terça (11). A decisão sai na quarta.
A queda dos juros é considerada
importante para recuperar a atividade econômica. Parte do mercado financeiro
também torce por queda mais brusca, que eleva o preço de papéis em que investiram.
O grupo de alimentos e bebidas
representa mais de 25% do IPCA, porém, e uma aceleração em seus preços pode
atenuar a redução da Selic.
Neste ano, mais da metade do
recuo da inflação ocorreu graças aos alimentos, cita Iana Ferrão. Nos 12 meses
encerrados em setembro de 2016, o IPCA era 8,5%. Em fevereiro, foi 4,8%. Desses
3,7 pontos percentuais, 2 foram efeito direto dos alimentos.
"Isso sem contar o efeito
indireto, como na alimentação fora do domicílio, que representa 25% dos
serviços."
Em relatório divulgado no final
de março, Ferrão também mostra que o recuo no preço de alimentos deste ano é o
mais longo e o mais pronunciado entre todos os provocados por aumento de oferta
de alimentos desde o plano real, em 1994.
A alta de preços no Brasil também
está limitada pela pressão menor do câmbio, que faz o produto nacional perder
competitividade no mercado externo, Fábio Silveira, diretor da MacroSector.
O dólar médio deve ficar em R$
3,24 neste ano, ante R$ 3,49 no ano passado.
O CENÁRIO É
OUTRO
Ferrão diz que não há dados
suficientes para projetar qual pode ser o efeito nos preços de um novo El Niño
em 2017. Em 2016, quando o fenômeno foi um dos mais fortes da história, igualado
apenas pelo de 1997-98, o choque no preço de alimentos respondeu por 0,9 ponto
do IPCA de 6,29%, segundo cálculos do economista-chefe da LCA, Bráulio Borges.
Neste ano, porém, mesmo um El
Niño forte teria efeito menor sobre os preços das commodities. O cenário
mundial atual de grãos é diferente do de há dois anos, porque a boa produção
mundial da safra 2016/17 permitiu uma recomposição dos estoques de grãos.
Um dos exemplos é o milho, cuja
produção dos Estados Unidos havia caído um terço em 2012/13. No ano seguinte
foi a do Brasil que encolheu 22%.
O milho é importante nessa cadeia
porque a variação de preços do cereal tem efeito não só na produção de
proteínas (carne bovina, de suínos e de frangos, por exemplo) como no consumo
humano direto.
Mas dados do Amis (um sistema de
informações agrícolas baseadas em 11 organizações internacionais) indicam que
os estoques finais do cereal são bons neste ano, e devem ficar em 214 milhões
de toneladas.
Já os estoques de trigo ficam em
247 milhões de toneladas; os de arroz, em 171 milhões, e os de soja, em 80
milhões.
São volumes que dão uma boa
sustentação à demanda.
Há quatro anos, os estoques de
soja nos Estados Unidos eram suficientes para apenas 10 dias de consumo.
Atualmente estão em 39 dias. No mesmo período, o de milho subiu de 27 dias para
58 dias.
DE OLHO NOS
EUA
Silveira lembra ainda que um
limitador para uma alta dos preços internacionais das commodities é a elevação
da taxa de juros nos Estados Unidos. O investidor vai procurar ativos
financeiros, investindo menos em commodities.
Bolsa de commodities em
Chicago, nos EUA
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Por outro lado, a elevação dos
juros americanos pressionaria a cotação do dólar, e os alimentos são o grupo
cujo preço aumenta mais rapidamente quando o dólar sobe.
Além disso, os efeitos da
ocorrência de um novo El Niño não estariam limitados apenas a fatores
estruturais do mercado, mas também aos psicológicos.
Quando há perspectiva de forte
oscilação de preços, o quadro fica favorável para uma participação maior dos
fundos de investimentos.
E a participação dos fundos é
sempre um fator de incerteza nos preços para o mercado. Nunca se sabe a hora em
que vão entrar nem aquela em que vão sair.
Os efeitos são grandes tanto na
entrada como na saída.
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