domingo, 2 de abril de 2017

Transnordestina. Onze anos depois, clima de frustração e desânimo

Inicialmente orçada em R$ 4,5 bilhões, obra da Transnordestina quase dobrou de orçamento. Mais de uma década depois, ação está parada e só tem 52% dos trechos concluídos

17:00 | 01/04/2017
O orçamento inicial de R$ 4,5 bilhões já foi estourado, com pouco mais de metade da obra considerada concluída pelos responsáveis DELFIM MARTINS/BLOG DO PI
O orçamento inicial de R$ 4,5 bilhões já foi estourado, com pouco mais de metade da obra considerada concluída pelos responsáveis DELFIM MARTINS/BLOG DO PI

Uma pequena multidão de cinco mil acompanhava apreensiva quando, em discurso entusiasmado, o então presidente Lula deu por iniciadas as obras da Transnordestina. “É o começo de um novo tempo para o Nordeste”, disse o petista, às margens do trecho da obra em Missão Velha, sertão caririense. Era o ano de 2006, véspera da reeleição de Lula, e a promessa era de que a ferrovia, inicialmente estimada para quatro anos, fosse concluída em três.

Onze anos e R$ 6,2 bilhões em investimentos depois, a obra segue pela metade – com 52% de conclusão desde dezembro de 2015 - e com todos os canteiros abandonados no Ceará. O orçamento inicial, de R$ 4,5 bilhões, dobrou, chegando à marca de R$ 11,2 bilhões. Sem perspectiva de entrega, a Transnordestina aguarda trâmite para, em cenário favorável, ter obras retomadas ainda em 2017.

Nas últimas semanas, o País acompanhou disputa entre PT e PMDB pela “paternidade” da transposição do rio São Francisco - outra obra do antigo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). “Sem pai”, a Transnordestina ficou travada em meio a questionamentos do Tribunal de Contas da União (TCU) e ao avanço da Lava Jato sobre empreiteiras que tocavam as obras. Ação aguarda relatório do TCU para ser retomada.

“O grande gargalo é esse relatório, que deve ter prazo de entrega para o dia 20 de abril. É o ‘Dia D’ da Transnordestina”, diz o deputado Raimundo Matos (PSDB), presidente da comissão que acompanha a obra na Câmara.
 
Projeto histórico
Se a obra não teve urgência, não foi por falta de relevância: demanda histórica do Nordeste, a ferrovia prevê ligação entre o sertão do Piauí (Eliseu Martins) e os portos do Suape, em Pernambuco, e do Pecém, no Ceará. A estrada teria 1.753km de extensão, passando por 81 municípios.

“Não só interligaria regiões produtoras do Nordeste com os principais polos de exportação, como aproximaria o escoamento do Centro-Oeste e até de mercados internacionais, como Europa e Ásia”, diz Danilo Forte (PSB).

No Ceará, a Transnordestina tem previsão de 526 km, passando por 29 municípios entre Missão Velha e o Pecém. Os trechos, que até 2013 eram tocados pela Odebrecht, foram assumidos pela cearense Marquise após o escândalo da Lava Jato obrigar a empreiteira original a rescindir contratos com o governo.

Concessionária da obra, a Transnordestina Logística S/A, empresa do grupo Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), afirmou em nota estar “totalmente empenhada no planejamento da retomada das obras assim que possível”. O grupo diz desenhar estratégia para que as obras sejam retomadas ainda neste ano.

Responsável pelas desapropriações da obra, a Secretaria de Infraestrutura do Ceará (Seinfra) afirma que já concluiu 90,75% dos 1,4 mil laudos previstos para a ação.

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