terça-feira, 11 de outubro de 2016

Ou muda, ou morre, desaparece.

Cultura da violência.
3) O homem da terra – o vaqueiro e sua vaquejada.
Em outro Veredicto mostramos o vaqueiro no seu trabalho, no seu ambiente, no seu convívio social no Nordeste. O objetivo didático do nosso Trabalho é relacionar o ambiente, a vida e o trabalho do Homem nordestino equilibrados, de forma sustentável, continuada econômica e socialmente; isto é diferente de dezenas de outros trabalhos literários que mostraram de forma distorcida, e sem a razão, o vaqueiro na sua lida de vaquejar o gado bovino da fazenda. Por causa da mudança climática ocorrida no Nordeste nos últimos 40 anos já não existem, hoje, fazendas de gado no sertão nordestino, se comparar às fazendas em outras regiões do Brasil. No sertão nordestino não há mais que 300 cabeças de gado em uma propriedade, enquanto que no Centro-Oeste e Sudeste há fazendas com 20 mil cabeças de gado. Hoje o criador de gado no sertão nordestino cuida do seu pequeno rebanho com o auxilio dos seus familiares; não é vaqueiro, não emprega vaqueiros. Na zona da mata baiana e no nordeste amazônico ainda há criadores com 1.000 cabeças de gado no seu plantel, mas também em extinção. Nos Séculos XVII e XVIII o sertão nordestino teve o maior rebanho bovino do Brasil, na chamada Era do couro, e também da carne, do queijo; Eram fazendas com até 100 mil hectares de terras destinadas exclusivamente “a solta do gado”; todos os dias os vaqueiros da fazenda faziam uma “corra” (campeavam) no rebanho e periodicamente a vaqueirama da região se reunia em uma fazenda para festejar o sucesso da criação de gado no sertão nordestino. Essa reunião de vaqueiros acontecia mais de uma vez por ano, em cada fazenda, e uma vez por ano para todas as fazendas de uma determinada área. Uma das atividades dessas reuniões era “ferrar”, marcar com ferro em brasa, o corpo dos animais nascidos naquele ano, símbolo que identificava a “propriedade do animal”. Naquele tempo não havia cartório para registro dessas marcas identificadoras de propriedade e normalmente os fazendeiros fixavam suas marcas no caule de uma árvore destacada no ambiente, enquanto alguns desenhistas especializados registravam essas marcas em papel, sendo distribuída uma cópia com cada fazendeiro presente à reunião, para que todos soubessem, guardassem as diversas marcas (ferros), de modo a não haver duplicatas do desenho. O RN foi o Estado (ou província) do Nordeste, onde, proporcionalmente à área territorial teve o maior rebanho bovino. No RN há dezenas de cidades e municípios cuja denominação está relacionada com a criação de gado bovino. Exemplo: Parelhas, Currais Novos, Pau dos Ferros. “Dada esta explicação sobre a criação de gado bovino, vamos para a vaquejada: As palavras ‘vaqueiro e vaquejada” são derivadas das palavras vaca + queijo, mas por razões que desconhecemos omitiram na escrita a letra “i” de vaquejada; também não vamos pesquisar a sua origem já que nos parece ser exclusividade do Nordeste Brasileiro. Há muita literatura – prosa, verso, jornalismo, que tratam das vaquejadas do Nordeste, mostrando uma festa, um divertimento, um lazer. Na realidade a vaquejada não é diferente das touradas na Espanha, dos rodeios dos EEUU; a ideia é sempre a mesma: mostrar que o homem é mais forte e mais inteligente do que o touro (vez por outro o touro mostra o contrário), onde acontece todo tipo de agressão mútua. A vaquejada agora é profissional – chamada de circuito de vaquejadas; rola muito dinheiro e drogas diversas. Há gente que vive exclusivamente da vaquejada e esse circuito de vaquejadas dura meses e meses do ano; cada vaquejada dura de 3 a 5 dias, continuadamente dias e noites. Os 3 elementos envolvidos no espetáculo, além dos expectadores, são o touro(boi, vaca), o cavalo e o homem(vaqueiro, cavaleiro). A corrida de vaquejada acontece com um bovino, 2 equinos e 2 cavaleiros. A vaquejada é uma apologia ao uso de drogas, principalmente bebidas alcoólicas e por isso a vaqueirama permanece “acesa” dias e noites. Dos 3 elementos da vaquejada apenas o cavalo permanece raciocinando e tem algum descanso, porque cada cavaleiro tem 2 ou mais cavalos treinados. A pista onde acontece a “derrubada” dos touros tem cerca de 120m de comprimento e 60m de largura, com um curral em cada uma das extremidades. A pista normalmente é forrada com areia para evitar que o boi se desintegre na queda e, ocasionalmente o cavalo e o cavaleiro não morram na queda. O parque de vaquejada é sempre fora do perímetro urbano da cidade e paralelamente ou simultaneamente há outros eventos, particularmente o forró; há muita comida e bebidas quentes e o ambiente se degenera social e moralmente; é um verdadeiro pandemônio. As duplas de cavaleiros competem entre si; o touro parte de uma das extremidades da pista, em direção a outra extremidade e os 5 elementos – touro, cavalos, vaqueiros seguem em transloucada carreira, juntinhos, como se fossem um sanduíche, com o touro no meio, de modo a permitir que um dos vaqueiros pegue a cauda(o rabo) do touro, enrole-o na mão e arraste-o para derrubá-lo, o que deve acontecer até uma faixa transversal(marcada com cal) à pista; um dos vaqueiros faz a esteira, que significa manter o touro apertadinho entre os cavalos, enquanto o outro vaqueiro derruba o touro. Quanto mais violenta é a queda do touro mais significativa e espetacular, valendo mais pontos para a premiação; as duplas de cavalheiros que fazem mais pontos vão permanecendo na disputa, dias e noites, até chegasse a um total de 5 a 20 duplas que serão premiadas; Muitas vezes durante a derrubada do touro o vaqueiro arranca a cauda e por essa façanha é freneticamente aplaudido pela valentia e heroísmo; para agredir o cavalo tem duas esporas(rosetas de ferro) nos pés e uma chibata na mão. Em termos de violência e agressividade com a vida a vaquejada é semelhante ao futebol, com uma diferença: no futebol os jogadores, dirigentes e torcedores estão permanentemente em estado de agressividade porém o fazem prevendo os riscos e as consequências e menos de 80% dos participantes estão drogados( álcool+) , mas na vaquejada tem o touro e o cavalo (irracionais?) que são “usados” pelo homem; além disso, vaquejada sem drogas não tem graça; muita aguardente tem de haver. O touro, o cavalo e o vaqueiro estão em risco de vida permanente e por isto a vaquejada é tão divertida. A vaquejada é uma brincadeira absolutamente estúpida; é a involução de um povo que não conhece o Deus do Amor e da Verdade.

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