No meio da Caatinga, na estrada sem fim, o sertanejo com seu carro-de-mão conduz as compras feitas na feira-livre da cidade de Santana do Matos; provavelmente essa explanação sobre a imagem em pauta não diz tudo quando o Homem é a razão, o foco de um estudo ambiental científico; Educação ambiental é ciência social, e precisamos acrescentar ao estudo dessa postagem elementos ambientais e sociais que não podem ser detectados na imagem, mas principalmente por conhecimento de causa por EU ter nascido e vivido nesse mesmo ambiente, com poucas mudanças em dezenas de anos; o Homem deixou seu carro-de-mão na beira da estrada, e foi ás 07:00H de caminhão à feira-livre na cidade; voltando da feira às 14:50H já tinha seu carro-de-mão para conduzir as "compras" da estrada para casa, cerca de 3 km de distância; as compras normalmente são feitas nos "mercadinhos", comprando "fiado" para pagar no fim do mês quando receber a aposentadoria do INSS (funrural), e/ou as BOLSAS do governo federal; No meu tempo de criança e adolescente sobrevivendo nessa área íamos montados em jumentos para a feira, uns com selas para montaria, outros com cangalhas para as cargas; a fonte de renda era a venda do algodão que se plantava, colhia-se um vez por ano; e também a venda de "criação" - caprinos e ovinos, vendendo-se o bicho em pé (vivo) para o machante (palavra derivada de machado, aquele que mata o bicho usando um machado, com uma "machadada" na cabeça; comprava-se "fiado" nas bodegas, armazéns de panos (tecidos de algodão para roupas) para pagar com a venda do algodão no fim do ano, e na feira livre se comprava o que a bodega não tinha, com o dinheiro da venda de uma "criação"; comprava-se carne de charque(ou jabá), toucinho de porco e tripas de boi; em casa tinha as galinhas caipiras e os ovos para complementar "a mistura" do feijão com farinha de mandioca e rapadura; Quando chovia menos de 300mm/ano não se produzia milho e feijão (macassar), aumentando as despesas na compra desses "mantimentos"; não se produz mandioca no sertão, por causa da alta temperatura ambiental (capaz de cozinhar o tubérculo no chão)e a farinha era produzida nas chãs das serras, com clima mais fresco, e com terreno arenoso, plano, mais apropriado; No "meu tempo" não havia eletricidade na área rural, e não tinha rádio, TV, geladeira; Hoje o Homem do carro-de-mão já não trabalha na agricultura, e quando chove planta milho e feijão apenas para comer "verde" - milho e feijão verde; não planta algodão, não planta mandioca (já não se come farinha como antes); em casa tem geladeira, televisão, rádio, comprados a prestações para pagar com o dinheiro da aposentadoria do INSS e das bolsas do governo; no "meu tempo' a aquisição de um par de sandália, uma roupa nova no final do ANO era motivo de alegria; ter duas refeições de amoço e jantar com feijão, farinha e carne era satisfação garantida; hoje o sertanejo da zona rural calça tênis, veste roupa de confecção, sempre tem carnes na refeição, tem açúcar, margarina, bolachas; na TV e no rádio tem uma parafernália de informação e publicidades; os filhos vão à escola na cidade, o ônibus do governo vem apanhá-los na porta de casa; No "meu tempo" não se ia ao médico, dentistas (era só para quem tinha "posses", ricos); as doenças eram tratadas com chãs de folhas de plantas, raízes de plantas, cascas; as dores de dentes eram tratadas pelas "rezadeiras" com rezas tão "fortes' que seriam capazes e explodir o dente;
No "meu tempo" de SER TÃO dormia-se com as portas de casa abertas, sem nenhum temor (só se temia os castigos de Deus, por pecados que nem existiam); a família era absolutamente unida, respeito mútuo entre país, filhos, irmãos; não se dizia palavrão em casa; dividia-se equitativamente os bens, a felicidade, os problemas, e até se compartilhava as doenças a ponto da doença de um membro da família ser "sentida" por todos; A paz, a tranquilidade, o amor REINAVAM em cada lar, e quanto mais modesto, mais esses valores eram cultuados;
A pergunta é: e Hoje?
Educação ambiental é ciência social.
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