terça-feira, 29 de novembro de 2016

A seca paga com juros e correção de atitude.

Sem leite e com sede

A morte assombra a bacia leiteira de Pernambuco. Em 2012, primeiro ano de seca prolongada no Estado, o gado foi dizimado. A praga da cochonilha de carmim destruiu a palma e deixou o rebanho com fome. Duzentas e cinquenta mil cabeças de gado morreram, espalhadas em cemitérios a céu aberto. Em 2016, a morte tem outra face. O gado, que antes padeceu de fome, agora sofre de sede. E perde produtividade. A produção do leite despencou, obrigando pecuaristas a se desfazer do gado. A luta é para manter o bicho vivo. Sem água, tem sido difícil.
A vaca caída, coberta de carrapato. Doente, sem forças, dali só aguenta mais dois dias, no máximo. A cena, num sítio do município de Cachoeirinha, é um golpe na esperança do criador de gado. Para fugir da fome e da sede, muitos produtores resolveram levar o rebanho para a Mata Sul de Pernambuco, onde a oferta de água é mais abundante. Era para ser solução. Virou armadilha. A diferença extrema de clima (seco no Agreste e úmido na Mata) deixou o gado exposto a doenças, como a verminose, e ao ataque de carrapatos. A saída foi trazer os bichos de volta. No retorno, a morte continuava à espreita.
Vaca caída no chão
A pior seca dos últimos 60 anos tem imposto ao rebanho pernambucano tantas provações que só ter fé não dá conta. “É uma danação. A gente tem passado por um aperreio tão grande que perde o prumo. Fica traumatizado. É só morte, morte. O cheiro de desgraça tá enganchado na gente”, desabafa o produtor José Amaro Braulindo, dono da vaca comida pelos carrapatos. Ele já perdeu três animais na volta do rebanho da Zona da Mata. O bicho fotografado pela reportagem era o quarto a cair, em duas semanas. “E tem mais dois no mesmo caminho”, diz, numa mistura de lamento e desesperança.
Como manter o gado de pé e produtivo sem água e insumos para alimentá-lo? A situação é dramática. Em cinco anos de seca consecutiva, a produtividade chegou a cair em torno de 45%. Em 2011, o rebanho do Estado produzia 2,5 milhões de litros de leite por dia. Hoje essa produção é de 1,4 milhão de litros de leite/dia. A perda está relacionada a dois fatores diretos. Primeiro, à redução do próprio rebanho. Depois, a dificuldade de alimentar o gado com uma ração de qualidade.
Como manter o gado de pé e produtivo sem água e insumos para alimentá-lo? A situação é dramática. Em cinco anos de seca consecutiva, a produtividade chegou a cair em torno de 45%. Em 2011, o rebanho do Estado produzia 2,5 milhões de litros de leite por dia. Hoje essa produção é de 1,4 milhão de litros de leite/dia.
carrapatos grudados no couro da vaca
2012 foi um divisor de águas para a bacia leiteira do Estado. O mais grave dos anos de estiagem, levando em conta perdas, morte de animais e queda da produção. Em 2011, último ano sem seca em Pernambuco, o cenário era promissor. Tempos de fartura. O Estado vinha de oito invernos regulares, pasto cheio, verdão no horizonte. Não havia com o que se preocupar. Foi quando a história mudou e mudou radicalmente. O ano de 2012 chegou e trouxe com ele a estiagem. Fez pior. Trouxe a praga da cochonilha de carmim, importada do Sertão. Foi a morte. Da palma e do próprio gado, que, sem ter o que comer, sucumbiu.
carcaça de cavalo
“A quebra de paradigma nos assustou. Sempre enfrentamos secas, grandes secas, mas nunca estivemos tão despreparados. Havia um ambiente confortável, garantido pela regularidade das chuvas e não nos preparamos. Quando a cochonilha entrou no Agreste, pegou todos os criadores de gado de surpresa. Uma tragédia”, diz Erivânia Camelo, gerente-geral da Agência de Defesa e Fiscalização Agropecuária de Pernambuco (Adagro). O saldo foi devastador: o rebanho pernambucano perdeu, entre os anos de 2012 e 2013, 500 mil animais, considerando, mortes, abate e venda, principalmente para os Estados do Maranhão e do Pará.
“Nunca conseguimos recuperar esses bichos. É tecnologia que se perdeu e que não volta mais ao nosso Estado”, afirma Erivânia. O tamanho hoje do rebanho pernambucano, após cinco anos de estiagem, é de 1,9 milhão de cabeças de gado. Bem distante dos 2,5 milhões de animais que existiam em 2011. Recuperar esses números parece ser uma realidade ainda improvável. Com a permanência da estiagem, a perspectiva é de mais perdas.
“O nordestino é um guerreiro. Sair da situação de 2012 e chegar aonde estamos hoje... Somos todos heróis".
Romildo Albuquerque Bezerra, produtor de leite

HISTÓRIA DEIXADA PARA TRÁS

Plantação de palma
Sem ter como alimentar o gado, o jeito é deixar para trás a história de uma vida inteira e mudar de profissão. Esse tem sido o caminho de muitos produtores de leite, principalmente os menores, que não conseguem arcar com os custos para matar a sede dos bichos. Muito menos comprar insumos como milho e soja (ricos em proteína e energia), essenciais na alimentação do gado. Para se ter uma dimensão da alta que esses produtos atingiram no mercado, a saca de milho, que, em 2012, era comprada a R$ 18, hoje é vendida a R$ 62, quase quatro vezes mais cara. A soja segue o mesmo caminho. A saca do produto custa hoje o dobro (R$ 90) do que custava há quatro anos.
O avô, o pai, várias gerações da família de Denildo Souza dos Santos cresceram e se criaram cuidando de gado e produzindo leite, no município de São Bento do Una. Após acumular dívidas e ver a produtividade do rebanho cair, o produtor desistiu de continuar no ramo. Vendeu as vacas, bezerros e agora tenta a sorte transportando e vendendo água. “Não aguentei mais a seca. Melhor se desfazer do gado do que viver nessa luta sem fim. A ração cara, a água difícil de achar. Era isso ou ver os bichos morrendo na minha porta. Não suportei mais”, desabafa.
Em Venturosa, o produtor Romildo Albuquerque Bezerra, cuja família também tem larga tradição em leite e queijo, diz que a conta não fecha. A despesa com o gado é cada vez mais alta. Nos últimos oito meses, ele viu sua produção de queijo, que era de 14 toneladas por mês, cair para uma média de 9,5 toneladas mensais. “Tudo em função da seca, da falta de água e de alimento.” O produtor acredita que criar gado no Agreste seco tem sido um ato de bravura. “O nordestino é um guerreiro. Sair da situação que enfrentamos em 2012 e chegar aonde estamos hoje... Somos todos heróis. Agora é preocupante. Se não chover, acredito que o nosso rebanho não vai sobreviver”, afirma. O maior receio do produtor é de que 2017 seja mais um ano de estiagem severa. Será uma nova sentença de morte para o gado pernambucano. O rebanho que escapou da fome pode não escapar da sede.

A crise na bacia leiteira de Pernambuco

O primeiro ano de seca prolongada em Pernambuco foi um divisor de águas para a bacia leiteira do Estado. O mais grave em termos de perdas, morte de animais e queda da produção leiteira
A praga da Cochonilha de Carmim dizimou as plantações de palma da região
250
mil cabeças de gado morreram
Com a ausência da palma para alimentar o gado, os produtores experimentam, pela primeira vez, a cana-de-açúcar na ração. Foi o que salvou boa parte dos animais
500
mil animais foi o saldo da perda total, incluindo, além das mortes, o abate, e a venda, principalmente, 

2 comentários:

  1. A seca que a gente faz por ignorância e extravagância a gente paga com juros e correção de altitudes; ninguém fica impune.

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  2. É chocante e estarrecedor acompanhar essa reportagem do Jornal do Comércio, Recife-PE, quando se sabe que PE tem, depois da BA, a segunda maior área de zona da mata NE, onde esteve 3 Capitanias Hereditárias, entre as quais a que mais prosperou no Brasil; embora o Brasil tenha nascido na Bahia, Pernambuco sempre se destacou, desde a Ocupação Holandesa em que Recife foi a cidade Mauricéa, sede do governo Holandês no Brasil.Recife já foi a terceira cidade do Brasil, berço de brasileiros ilustres, principalmente na cultura, e PE ficou conhecido como Leão do Norte, tudo isso graças á zona da mata norte e sul de PE; o agreste PE, entre a zona da mata e o sertão, foi a parte do agreste NE que mais prosperou, grandes cidades a exemplo de Caruaru, Toritama, Santa Cruiz do Capibaribe, um grande parque comercial; o agreste PE teve muitos engenhos e usinas de beneficiamento de cana-de-açúcar, o que não aconteceu no restante do agreste NE.Apenas 50% do sertão PE tem caatingas (semiárido natural); tem muitas áreas úmidas e férteis, os brejos de altitudes da Borborema, divisa com CE e PI; em 1.972 PE tinha mais de 100 indústrias beneficiando a cana-de-açúcar e seus derivados, e em 2.000 tinha 16 indústrias nesse ramo. A decadência da monocultura da cana-de-açúcar era perfeitamente previsível, desde que se começou a QUEIMAR o canavial, lá pela década de 60, supostamente para se fazer o corte (colheita), ideia trazida de CUBA pelos intelectuais e políticos anarquistas, o que se tornou uma arma de reivindicação dos trabalhadores da cana, ao mesmo tempo que o FOGO destruiu e secou o solo; queimava-se o canavial, quando o fogo entrava nas matas circundantes, todos os anos, inviabilizando o surgimento, brotamento e desenvolvimento da grande Mata da mata atlântica de PE. O fogo é um agente de destruição incompatível com a vida de tal forma que o fogo e a vida não podem ocupar o mesmo lugar ao mesmo tempo: onde tem fogo não tem solo orgânico mineral vivo, não tem atmosferas respirável; o fogo diminuiu a umidade do ar, aumenta a temperatura, enquanto as cinzas, carvão, fumaça, fuligem contribuem para a criação do ácido nítrico, nitrato de sódio, gases tóxicos; os 300ºC do fogo da coivara, da queimada, da fogueira altera a composição dos minerais do chão, neutralizando uns, diminuindo a porcentagem dos mesmos, no solo;o fogo não é um elemento da Natureza já que não existe por si mesmo; o Fogo é o OME e vice-versa.

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