terça-feira, 9 de outubro de 2018

Morrendo à míngua, á deriva feito bosta n` ÁGUA.

Triste Partida.
Meu Deus, meu Deus. . .

Setembro passou 
Outubro e Novembro 
Já tamo em Dezembro 
Meu Deus, que é de nós, 
Meu Deus, meu Deus 
Assim fala o pobre 
Do seco Nordeste 
Com medo da peste 
Da fome feroz 
Ai, ai, ai, ai 

A treze do mês 
Ele fez experiência 
Perdeu sua crença 
Nas pedras de sal, 
Meu Deus, meu Deus 
Mas noutra esperança 
Com gosto se agarra 
Pensando na barra 
Do alegre Natal 
Ai, ai, ai, ai 


Rompeu-se o Natal 
Porém barra não veio 
O sol bem vermeio 
Nasceu muito além 
Meu Deus, meu Deus 
Na copa da mata 
Buzina a cigarra 
Ninguém vê a barra 
Pois a barra não tem 
Ai, ai, ai, ai 

Apela pra Março 
Que é o mês preferido 
Do santo querido 
Senhor São José 
Meu Deus, meu Deus 
Mas nada de chuva 
Tá tudo sem jeito 
Lhe foge do peito 
O resto da fé 
Ai, ai, ai, ai 

Agora pensando 
Ele segue outra tria 
Chamando a famia 
Começa a dizer 
Meu Deus, meu Deus 
Eu vendo meu burro 
Meu jegue e o cavalo 
Nós vamos a São Paulo 
Viver ou morrer 
Ai, ai, ai, ai 

Nós vamos a São Paulo 
Que a coisa tá feia 
Por terras alheia 
Nós vamos vagar 
Meu Deus, meu Deus 
Se o nosso destino 
Não for tão mesquinho 
Cá e pro mesmo cantinho 
Nós torna a voltar 
Ai, ai, ai, ai 

E vende seu burro 
Jumento e o cavalo 
Inté mesmo o galo 
Venderam também 
Meu Deus, meu Deus 
Pois logo aparece 
Feliz fazendeiro 
Por pouco dinheiro 
Lhe compra o que tem 
Ai, ai, ai, ai 

Em um caminhão 
Ele joga a famia 
Chegou o triste dia 
Já vai viajar 
Meu Deus, meu Deus 
A seca terrível 
Que tudo devora 
Lhe bota pra fora 
Da terra natá 
Ai, ai, ai, ai 

O carro já corre 
No topo da serra 
Oiando pra terra 
Seu berço, seu lar 
Meu Deus, meu Deus 
Aquele nortista 
Partido de pena 
De longe acena 
Adeus meu lugar 
Ai, ai, ai, ai 

No dia seguinte 
Já tudo enfadado 
E o carro embalado 
Veloz a correr 
Meu Deus, meu Deus 
Tão triste, coitado 
Falando saudoso 
Seu filho choroso 
Exclama a dizer 
Ai, ai, ai, ai 

De pena e saudade 
Papai sei que morro 
Meu pobre cachorro 
Quem dá de comer? 
Meu Deus, meu Deus 
Já outro pergunta 
Mãezinha, e meu gato? 
Com fome, sem trato 
Mimi vai morrer 
Ai, ai, ai, ai 

E a linda pequena 
Tremendo de medo 
"Mamãe, meus brinquedo 
Meu pé de fulô?" 
Meu Deus, meu Deus 
Meu pé de roseira 
Coitado, ele seca 
E minha boneca 
Também lá ficou 
Ai, ai, ai, ai 

E assim vão deixando 
Com choro e gemido 
Do berço querido 
Céu lindo azul 
Meu Deus, meu Deus 
O pai, pesaroso 
Nos filho pensando 
E o carro rodando 
Na estrada do Sul 
Ai, ai, ai, ai 

Chegaram em São Paulo 
Sem cobre quebrado 
E o pobre acanhado 
Procura um patrão 
Meu Deus, meu Deus 
Só vê cara estranha 
De estranha gente 
Tudo é diferente 
Do caro torrão 
Ai, ai, ai, ai 

Trabaia dois ano, 
Três ano e mais ano 
E sempre nos prano 
De um dia vortar 
Meu Deus, meu Deus 
Mas nunca ele pode 
Só vive devendo 
E assim vai sofrendo 
É sofrer sem parar 
Ai, ai, ai, ai 

Se arguma notícia 
Das banda do norte 
Tem ele por sorte 
O gosto de ouvir 
Meu Deus, meu Deus 
Lhe bate no peito 
Saudade lhe molho 
E as água nos óio 
Começa a cair 
Ai, ai, ai, ai 

Do mundo afastado 
Ali vive preso 
Sofrendo desprezo 
Devendo ao patrão 
Meu Deus, meu Deus 
O tempo rolando 
Vai dia e vem dia 
E aquela famia 
Não vorta mais não 
Ai, ai, ai, ai 

Distante da terra 
Tão seca mas boa 
Exposto à garoa 
À lama e o paul
Meu Deus, meu Deus 
Faz pena o nortista 
Tão forte, tão bravo 
Viver como escravo 
No Norte e no Sul 



Vozes da Seca, Luiz Gonzaga.
  

Seu doutô os nordestino têm muita gratidão
Pelo auxílio dos sulista nessa seca do sertão
Mas doutô uma esmola a um homem qui é são
Ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão
É por isso que pidimo proteção a vosmicê
Home pur nóis escuído para as rédias do pudê
Pois doutô dos vinte estado temos oito sem chovê
Veja bem, quase a metade do Brasil tá sem cumê
Dê serviço a nosso povo, encha os rio de barrage
Dê cumida a preço bom, não esqueça a açudage
Livre assim nóis da ismola, que no fim dessa estiage
Lhe pagamo inté os juru sem gastar nossa corage
Se o doutô fizer assim salva o povo do sertão
Quando um dia a chuva vim, que riqueza pra nação!
Nunca mais nóis pensa em seca, vai dá tudo nesse chão
Como vê nosso distino mercê tem nas vossa mãos
Parte superior do formulário

Parte inferior do formulário
 Súplica cearense.


Oh! Deus, perdoe este pobre coitado
Que de joelhos rezou um bocado
Pedindo pra chuva cair sem parar. Oh! Deus, será que o senhor se zangou
E só por isso o sol se arretirou
Fazendo cair toda a chuva que há. Senhor, eu pedi para o sol se esconder um tiquinho
Pedir pra chover, mas chover de mansinho
Pra ver se nascia uma planta no chão. Oh! Deus, se eu não rezei direito o Senhor me perdoe,
Eu acho que a culpa foi
Desse pobre que nem sabe fazer oração. Meu Deus, perdoe eu encher os meus olhos de água
E ter-lhe pedido cheinho de mágoa
Pro sol inclemente se arretirar. Desculpe eu pedir a toda hora pra chegar o inverno
Desculpe eu pedir para acabar com o inferno
Que sempre queimou o meu Ceará

A SECA  NE é uma estupidez de mal gosto, embora já dê status.



Um comentário:

  1. A mesma cabeça que faz a seca não pode ASSIMILAR informação ambiental científica. Temos conhecimento de causa.

    ResponderExcluir