O OME sertanejo é antes de tudo um fraco.
Sem leite e com sede.
A morte assombra a bacia leiteira de
Pernambuco. Em 2012, primeiro ano de seca prolongada no Estado, o gado foi
dizimado. A praga da cochonilha de carmim destruiu a palma e deixou o rebanho
com fome. Duzentas e cinquenta mil cabeças de gado morreram, espalhadas em
cemitérios a céu aberto. Em 2016, a morte tem outra face. O gado, que antes
padeceu de fome, agora sofre de sede. E perde produtividade. A produção do
leite despencou, obrigando pecuaristas a se desfazer do gado. A luta é para
manter o bicho vivo. Sem água, tem sido difícil.
A vaca caída, coberta de carrapato.
Doente, sem forças, dali só aguenta mais dois dias, no máximo. A cena, num
sítio do município de Cachoeirinha, é um golpe na esperança do criador de gado.
Para fugir da fome e da sede, muitos produtores resolveram levar o rebanho para
a Mata Sul de Pernambuco, onde a oferta de água é mais abundante. Era para ser
solução. Virou armadilha. A diferença extrema de clima (seco no Agreste e úmido
na Mata) deixou o gado exposto a doenças, como a verminose, e ao ataque de
carrapatos. A saída foi trazer os bichos de volta. No retorno, a morte
continuava à espreita.
A pior seca dos últimos 60 anos tem
imposto ao rebanho pernambucano tantas provações que só ter fé não dá conta. “É
uma danação. A gente tem passado por um aperreio tão grande que perde o prumo.
Fica traumatizado. É só morte, morte. O cheiro de desgraça tá enganchado na
gente”, desabafa o produtor José Amaro Braulindo, dono da vaca comida pelos
carrapatos. Ele já perdeu três animais na volta do rebanho da Zona da Mata. O
bicho fotografado pela reportagem era o quarto a cair, em duas semanas. “E tem
mais dois no mesmo caminho”, diz, numa mistura de lamento e desesperança.
Como manter o gado de pé e produtivo
sem água e insumos para alimentá-lo? A situação é dramática. Em cinco anos de
seca consecutiva, a produtividade chegou a cair em torno de 45%. Em 2011, o
rebanho do Estado produzia 2,5 milhões de litros de leite por dia. Hoje essa
produção é de 1,4 milhão de litros de leite/dia. A perda está relacionada a
dois fatores diretos. Primeiro, à redução do próprio rebanho. Depois, a
dificuldade de alimentar o gado com uma ração de qualidade.
Como manter o gado de pé e produtivo
sem água e insumos para alimentá-lo? A situação é dramática. Em cinco anos de
seca consecutiva, a produtividade chegou a cair em torno de 45%. Em 2011, o
rebanho do Estado produzia 2,5 milhões de litros de leite por dia. Hoje essa
produção é de 1,4 milhão de litros de leite/dia.
2012 foi um divisor de águas para a
bacia leiteira do Estado. O mais grave dos anos de estiagem, levando em conta
perdas, morte de animais e queda da produção. Em 2011, último ano sem seca em
Pernambuco, o cenário era promissor. Tempos de fartura. O Estado vinha de oito
invernos regulares, pasto cheio, verdão no horizonte. Não havia com o que se
preocupar. Foi quando a história mudou e mudou radicalmente. O ano de 2012
chegou e trouxe com ele a estiagem. Fez pior. Trouxe a praga da cochonilha de
carmim, importada do Sertão. Foi a morte. Da palma e do próprio gado, que, sem
ter o que comer, sucumbiu.
“A quebra de paradigma nos assustou.
Sempre enfrentamos secas, grandes secas, mas nunca estivemos tão despreparados.
Havia um ambiente confortável, garantido pela regularidade das chuvas e não nos
preparamos. Quando a cochonilha entrou no Agreste, pegou todos os criadores de
gado de surpresa. Uma tragédia”, diz Erivânia Camelo, gerente-geral da Agência
de Defesa e Fiscalização Agropecuária de Pernambuco (Adagro). O saldo foi
devastador: o rebanho pernambucano perdeu, entre os anos de 2012 e 2013, 500
mil animais, considerando, mortes, abate e venda, principalmente para os
Estados do Maranhão e do Pará.
“Nunca conseguimos recuperar esses
bichos. É tecnologia que se perdeu e que não volta mais ao nosso Estado”,
afirma Erivânia. O tamanho hoje do rebanho pernambucano, após cinco anos de
estiagem, é de 1,9 milhão de cabeças de gado. Bem distante dos 2,5 milhões de
animais que existiam em 2011. Recuperar esses números parece ser uma realidade
ainda improvável. Com a permanência da estiagem, a perspectiva é de mais
perdas.
“O nordestino é um guerreiro. Sair da situação de 2012 e chegar aonde
estamos hoje... Somos todos heróis".
Romildo
Albuquerque Bezerra, produtor de leite
HISTÓRIA DEIXADA PARA TRÁS
Sem ter como alimentar o gado, o
jeito é deixar para trás a história de uma vida inteira e mudar de profissão.
Esse tem sido o caminho de muitos produtores de leite, principalmente os menores,
que não conseguem arcar com os custos para matar a sede dos bichos. Muito menos
comprar insumos como milho e soja (ricos em proteína e energia), essenciais na
alimentação do gado. Para se ter uma dimensão da alta que esses produtos
atingiram no mercado, a saca de milho, que, em 2012, era comprada a R$ 18, hoje
é vendida a R$ 62, quase quatro vezes mais cara. A soja segue o mesmo caminho.
A saca do produto custa hoje o dobro (R$ 90) do que custava há quatro anos.
O avô, o pai, várias gerações da família
de Denildo Souza dos Santos cresceram e se criaram cuidando de gado e
produzindo leite, no município de São Bento do Una. Após acumular dívidas e ver
a produtividade do rebanho cair, o produtor desistiu de continuar no ramo.
Vendeu as vacas, bezerros e agora tenta a sorte transportando e vendendo água.
“Não aguentei mais a seca. Melhor se desfazer do gado do que viver nessa luta
sem fim. A ração cara, a água difícil de achar. Era isso ou ver os bichos
morrendo na minha porta. Não suportei mais”, desabafa.
Em Venturosa, o produtor Romildo
Albuquerque Bezerra, cuja família também tem larga tradição em leite e queijo,
diz que a conta não fecha. A despesa com o gado é cada vez mais alta. Nos
últimos oito meses, ele viu sua produção de queijo, que era de 14 toneladas por
mês, cair para uma média de 9,5 toneladas mensais. “Tudo em função da seca, da
falta de água e de alimento.” O produtor acredita que criar gado no Agreste
seco tem sido um ato de bravura. “O nordestino é um guerreiro. Sair da situação
que enfrentamos em 2012 e chegar aonde estamos hoje... Somos todos heróis.
Agora é preocupante. Se não chover, acredito que o nosso rebanho não vai
sobreviver”, afirma. O maior receio do produtor é de que 2017 seja mais um ano
de estiagem severa. Será uma nova sentença de morte para o gado pernambucano. O
rebanho que escapou da fome pode não escapar da sede.
A crise na bacia leiteira de Pernambuco
O primeiro ano de seca prolongada em
Pernambuco foi um divisor de águas para a bacia leiteira do Estado. O mais
grave em termos de perdas, morte de animais e queda da produção leiteira.
A praga da Cochonilha de Carmim
dizimou as plantações de palma da região
250
mil cabeças de gado morreram
Com a ausência da palma para
alimentar o gado, os produtores experimentam, pela primeira vez, a
cana-de-açúcar na ração. Foi o que salvou boa parte dos animais
A maldita seca nordestina é fruto do analfabetismo científico BR, ou seja, seca intelectual criada por ignorância por cabeças ocas, vazias, ou recheadas de DROGAS. Assim é impossível extirpar-la. Há tecnologia científica para captar e armazenar RACIONALMENTE a água das chuvas.
ResponderExcluir