Seca histórica muda paisagens no RN e faz sertanejo querer ir embora
G1 foi a 19 cidades para ver os efeitos da pior
estiagem dos últimos 100 anos.
Barragem com obras atrasadas e transposição são tidas como soluções.
Barragem com obras atrasadas e transposição são tidas como soluções.
Anderson Barbosa, Fred Carvalho e Kleber TeixeiraDo G1 RN
Açude Gargalheiras está praticamente seco por conta da estiagem
prolongada (Foto: Anderson Barbosa/G1)
A mais longa estiagem dos últimos 100 anos no Rio Grande do Norte está mudando hábitos e transformando
paisagens interior a dentro. Reservatórios secaram, cachoeiras desapareceram e
o verde da vegetação ganhou tons de cinza. O solo rachou, animais morreram,
plantações foram dizimadas. Os prejuízos, somente no ano passado, somam R$ 3,8
bilhões. E o sertanejo, que sofre com escassez, agarra-se à fé. As previsões
para o ano que vem não são boas. Um reservatório com obras atrasadas e a transposição
do rio São Francisco, que sequer tem data para chegar ao território potiguar,
são as soluções apontadas pelos governantes.
Dos 167
municípios do estado, 153 estão em estado de emergência pela falta de chuvas. Destes, 122 são abastecidos por caminhões-pipa.
Em onze cidades, que se encontram em colapso no abastecimento, o fornecimento
de água está comprometido e a Compahia de Águas e Esgotos (Caern) suspendeu a
cobrança das faturas. A maior barragem do estado, a Engenheiro Armando Ribeiro
Gonçalves, já atingiu o volume mais baixo de sua história. Nas regiões afetadas
tem gente que só pensa em ir embora.
Para ver de perto os efeitos da seca, equipes
do G1 e da Inter TV Cabugi percorreram
aproximadamente 1.400 quilômetros. Durante cinco dias foram visitadas 19
cidades nas regiões Seridó e Oeste do estado. Em Acari, Antônio Martins, Carnaúba dos Dantas,Currais Novos, João Dias, Luís Gomes,Paraná, Pilões, Riacho de Santana, São Miguel e Tenente Ananias o colapso no abastecimento faz os moradores
dormirem mal, angustiados com a escassez. E é preciso levantar cedo para
enfrentar as filas em busca de alguma água. Já em Apodi, Caicó, Itajá, Jucurutu, Lucrécia, Parelhas, Pau dos Ferros e São Rafael, é o nível baixo das barragens que preocupa.
As respostas para o homem do campo são ruins não
apenas quanto à possibilidade de uma mudança no clima, mas também em razão das
soluções apresentadas pelos governos federal e estadual. A construção da
barragem de Oiticica, apontada como salvação para meio milhão de sertanejos,
segue a passos lentos.
Obras da barragem de Oiticica deveriam ter sido concluídas em junho
passado (Foto: Anderson Barbosa/G1)
O reservatório, que está sendo construído na cidade
de Jucurutu, na região Seridó, terá capacidade para 500 milhões de metros cúbicos
de água e será responsável pelo abastecimento de pelo menos 17 cidades. A obra
foi iniciada em 2013 e deveria ter sido entregue em junho deste ano. Segundo a
Secretaria Estadual de Recursos Hídricos, a expectativa agora é que o serviço
seja concluído até o final de dezembro de 2016. E isso se a crise financeira
não retardar ainda mais o trabalho.
Já a tão aguardada transposição do rio São
Francisco, que de acordo com o Ministério da Integração Nacional (MI) também
beneficiará os potiguares, sequer tem data para chegar ao estado. O MI explica
que as águas do Velho Chico virão até o RN de duas maneiras. Uma delas é com a
perenização do rio Piranhas/Açu. Significa que as águas do rio, que nasce na
Serra do Piancó, na Paraíba, devem ser represadas pela barragem de Oiticica antes que elas
desemboquem na barragem Armando Ribeiro Gonçalves.
A outra forma de a água chegar ao estado será com a
construção um sistema denominado Ramal Apodi, uma etapa da obra que faz parte
do chamado Eixo Norte da transposição. Por este ramal, as águas deverão correr
por canais, túneis, aquedutos e barragens, totalizando 115,5 quilômetros de
extensão. Para isso, ainda de acordo com o ministério, estima-se que 857
propriedades terão que ser relocadas ou os donos indenizados em treze
municípios da Paraíba, Ceará e no
próprio Rio Grande do Norte.
Em solo potiguar, a transposição afetará famílias
em Luís Gomes, Major Sales e José da Penha, por onde o ramal passará até chegar ao açude público de Pau dos Ferros, de onde as águas partirão até Angicos, já na região Central do estado. Ao final do percurso, 44 municípios
devem ser beneficiados. O MI afirma que todo o Eixo Norte tem investimento
orçado em R$ 5,25 bilhões e que já trabalha na elaboração do edital de
licitação para que os serviços no Rio Grande do Norte tenham início. Só não
disse quando.
Em Luís Gomes, Ministério da Integração Nacional já demarcou o terreno
por onde será construído o Ramal Apodi, que faz parte das obras de transposição
do rio São Francisco (Foto: Anderson Barbosa/G1)
Em Luís Gomes, cidade potiguar que faz divisa com a Paraíba, muitos moradores já
foram procurados. José Vandilson Nunes da Silva tem 39 anos. Agricultor, ele
disse que no ano passado técnicos do Ministério da Integração Nacional o
contrataram para fazer a demarcação do terreno por onde o Ramal Apodi vai
passar. Ao mostrar as estacas fincadas no chão, ele contou que recebeu a
informação que pelas terras que ele possui, uma área de 2 hectares e meio,
receberá algo em torno de R$ 40 mil.
Agricultor José Vandilson mostra o posto de saúde
que teve a obra de construção interrompida par a
passagem do Ramal Apodi
(Foto: Anderson Barbosa/G1)
que teve a obra de construção interrompida par a
passagem do Ramal Apodi
(Foto: Anderson Barbosa/G1)
O agricultor também mostrou o prédio de um posto de
saúde que estava sendo construído na região, e que teve as obras interrompidas
porque fica no caminho do ramal. “Pararam a obra na hora. Ia continuar pra quê?
Pra depois ter que derrubar tudo?”, ressaltou.
Convivência com
a seca
Nesta semana, o ministro Gilberto Occhi anunciou que as obras do Projeto de Integração do Rio São Francisco estão com 78,6% de avanço físico, segundo dados de agosto deste ano. Também de acordo com o MI, o Rio Grande do Norte deve receber R$ 6 milhões para a continuidade das obras da barragem Oiticica.
Nesta semana, o ministro Gilberto Occhi anunciou que as obras do Projeto de Integração do Rio São Francisco estão com 78,6% de avanço físico, segundo dados de agosto deste ano. Também de acordo com o MI, o Rio Grande do Norte deve receber R$ 6 milhões para a continuidade das obras da barragem Oiticica.
Estramos enfrentando a maior crise hídrica da
história do nosso estado"
Robinson Faria,
governador do Rio Grande do Norte
governador do Rio Grande do Norte
Já o governo do estado, informou que está traçando
estratégias de ação para a convivência com a seca. O plano, para o qual foram
pleiteados R$ 63 milhões, é pensado para os próximos seis meses. “Estramos
enfrentando a maior crise hídrica da história do nosso estado”, frisou o
governador Robinson Faria. Segundo ele, três pontos principais compõem o plano.
No primeiro, o estado pretende equipar, perfurar e comprar materiais para
poços. O segundo diz respeito à forragem e ração animal, principalmente para os
pequenos agropecuaristas. O último, é sobre a utilização de carros-pipa. Robinson
quer que o Exército também abasteça a zona urbana das cidades que estão em
colapso.
Apelo
O governador também tratou da transposição do São Francisco. Ele disse que enfatizou o apelo já feito a presidente Dilma Rousseff para que ela considere, na execução do projeto, a inclusão da obra do canal que liga as barragens de Caiçara a Engenheiro Ávidos. A obra, orçada em aproximadamente R$ 150 milhões, vai captar água no município de São José de Piranhas (PB) e jogar na bacia Piranhas-Açu (RN), o que segundo ele anteciparia em quase 2 anos a chegada da água do Velho Chico ao Rio Grande do Norte.
O governador também tratou da transposição do São Francisco. Ele disse que enfatizou o apelo já feito a presidente Dilma Rousseff para que ela considere, na execução do projeto, a inclusão da obra do canal que liga as barragens de Caiçara a Engenheiro Ávidos. A obra, orçada em aproximadamente R$ 150 milhões, vai captar água no município de São José de Piranhas (PB) e jogar na bacia Piranhas-Açu (RN), o que segundo ele anteciparia em quase 2 anos a chegada da água do Velho Chico ao Rio Grande do Norte.
Silvano e Daiane vão esperar que o tempo melhore
até o final do ano. Se não chover, o casal promete ir
embora para Brasília (Foto: Anderson Barbosa/G1)
até o final do ano. Se não chover, o casal promete ir
embora para Brasília (Foto: Anderson Barbosa/G1)
Vontade de ir
embora
Silvano Soares Santos é servente de pedreiro, mas está desempregado. A mulher dele, Daiane Ferreira, vive de uma aposentadoria que recebe do INSS por ter epilepsia. O casal mora em Caicó, na região Seridó potiguar, uma das que mais sente a estiagem. Se não voltar a chover até o final do ano, Silvano e Daiane prometem ir embora para Brasília.
Silvano Soares Santos é servente de pedreiro, mas está desempregado. A mulher dele, Daiane Ferreira, vive de uma aposentadoria que recebe do INSS por ter epilepsia. O casal mora em Caicó, na região Seridó potiguar, uma das que mais sente a estiagem. Se não voltar a chover até o final do ano, Silvano e Daiane prometem ir embora para Brasília.
“Minha mãe, que é de Brasília, morava aqui com a gente. Ela não aguentou essa seca e voltou pra lá. É
isso o que nós vamos fazer também se o tempo não melhorar. Lá em Brasília meu marido
tem mais chances de conseguir um trabalho”, disse a mulher. Silvano concorda.
“Viver com um salário mínimo é muito difícil. E ter que gastar com água é pior
ainda. Temos três filhos pequenos, de 6, 8 e 11 anos. Aqui é muito sofrimento
para eles”, acrescentou.
Com menos de 4% da capacidade, açude Itans, em Caicó, entrou no volume
morto (Foto: Anderson Barbosa/G1)
Em Caicó, o fornecimento de água acontece na forma
de rodízio. Cada bairro da cidade só recebe água uma vez por semana. O açude
Itans, que abastece o município, está quase seco. O reservatório chega a
armazenar 81 milhões de metros cúbicos de água, mas com menos de 4% da
capacidade total já entrou no volume morto.
Dona de casa, Alzirene Oliveira pretende ir morar
em Natal para escapar da seca
(Foto: Anderson Barbosa/G1)
em Natal para escapar da seca
(Foto: Anderson Barbosa/G1)
Quem também pensa em fugir da seca é a dona de casa
Alzirene Oliveira, de 57 anos. Ela mora em Antônio Martins, que fica na região Oeste. A cidade é uma das onze
que está em colapso no abastecimento. “Isso não é vida. Vou embora pra Natal.
Se não voltar a chover logo, arrumo minhas tralhas e vou tentar coisa melhor na
capital”, afirmou.
Em Antônio Martins, a zona rural é abastecida pelos
caminhões-pipa do Exército. Já na área urbana da cidade, a Caern faz o
fornecimento. Segundo o pipeiro João Batista, são cinco veículos contratados
pela companhia. "Cada carro faz cinco viagens por dia. Só não rodamos nos
sábados", explicou.
Caminhões-pipa vão de casa em casa levando água para os moradores de
Antônio Martins (Foto: Anderson Barbosa/G1)
Proveito e
desespero
Enquanto alguns sofrem com a seca, também há quem lucre com ela. É o exemplo dos comerciantes de São Miguel, também na região Oeste, que estão faturando com a venda de baldes usados para guardar água. Na antiga cidade de São Rafael, inundada há mais de 30 anos para dar lugar à barragem Armando Ribeiro Gonçalves, um bar foi montado para recepcionar os visitantes que querem ver as ruínas da ‘Atlântida do Sertão’. Antigas construções, como a igreja e o cemitério, ressurgiram graças ao baixo volume do reservatório.
Enquanto alguns sofrem com a seca, também há quem lucre com ela. É o exemplo dos comerciantes de São Miguel, também na região Oeste, que estão faturando com a venda de baldes usados para guardar água. Na antiga cidade de São Rafael, inundada há mais de 30 anos para dar lugar à barragem Armando Ribeiro Gonçalves, um bar foi montado para recepcionar os visitantes que querem ver as ruínas da ‘Atlântida do Sertão’. Antigas construções, como a igreja e o cemitério, ressurgiram graças ao baixo volume do reservatório.
Açude Gargalheiras, em Acari, está praticamente seco por conta da
estiagem prolongada (Foto: Anderson Barbosa/G1)
Em Acari, no Seridó, o espetáculo das águas sumiu. A última sangria do açude –
que é quando as águas passam por cima da parede formando uma gigantesca cascata
artificial – aconteceu em 2011. De lá para cá o reservatório vem perdendo
água. Hoje, está com apenas 0,2% de sua capacidade total. Mesmo assim, ainda
atrai muita gente. Os visitantes vão ao local para contemplar a desolação.
Cachoeira do Relo, que fica em Luís Gomes, possui uma queda d’água de 8
metros de altura; nascente do rio Mossoró secou, fez cachoeira desaparecer e
turistas desaparecerem (Foto: Anderson Barbosa/G1)
Por fim, o que resta é mesmo a aflição. Um exemplo
disso está na Cachoeira do Relo, uma queda d’água de oito metros de altura
enfincada em meio as montanhas que circundam a cidade de Luís Gomes, no Oeste
do estado. Faz três anos que não pinga uma gota d’água por lá. A tristeza do
comerciante José Givaldo, proprietário do balneário, resume o sentimento do
sertanejo: “O que fazer? Só nos resta rezar”, concluiu.
tópicos:
Seca altera paisagem na
Mata Norte
A falta de chuvas também trouxe perda
da safra aos fornecedores de cana-de-açúcar
Publicado em 19/03/2017, às 08h01
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Mais uma estiagem aumenta o
desemprego e traz perda de safra aos produtores
Foto: Diego Nigro/JC Imagem
Angela Fernanda Belfort
O cinza invadiu os
canaviais de Pernambuco em pelo menos 10 municípios da Zona da Mata castigados
por mais uma estiagem. É um cenário tão seco e devastado que chega a lembrar o
Sertão. “Se o inverno começar hoje, vou ter uma redução da safra de 40%. Há
locais em que morreu tudo”, diz o fornecedor de cana-de-açúcar, Felipe Neri,
que tem propriedades em Lagoa de Itaenga e Carpina, ambas na Mata Norte. E o
impacto será grande. A moagem que está se encerrando será uma das menores dos
últimos 30 anos no Estado com a colheita estimada em 11,7 milhões de toneladas.
E a próxima (que começa em setembro) pode chegar a 12 milhões de toneladas,
numa estimativa feita pelo Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool de
Pernambuco (Sindaçúcar-PE). A média da safra é de 17 milhões de toneladas no
Estado e 13 milhões era a produção no começo dos anos 70.
As estiagens muito
severas sempre chegam, principalmente, à Mata Norte, o que ocorre ciclicamente
em função do fenômeno climático El Niño, que provoca seca no Semiárido
nordestino. Este já é o 5º ano consecutivo de chuvas abaixo da média na Zona da
Mata. A situação piorou depois de junho/julho do ano passado. “Planto cana em
julho e agosto há 30 anos. Foi a primeira vez que perdi a socaria plantada
nessa época. A chuva quase sumiu depois do final de julho”, afirma Neri. A
socaria é a parte da cana que, após ser cortada, rebrota por cinco anos
consecutivos. Em 2015/2016, ele colheu 10 mil toneladas da planta, na atual
safra (2016/2017) foram 6 mil toneladas e na próxima (2017/2018), a expectativa
é 3 mil toneladas. Atualmente, ele está com 5 pessoas trabalhando na sua
propriedade. Antes da seca, eram 8 durante a entressafra. Na propriedade do
cultivador, o registro médio da chuva é de 160 milímetros (mm) em junho e 165
mm em julho. Em 2016, foram registrados, respectivamente, 64 mm e 51 mm. O
engenho dele não tem qualquer reserva de água.
A escassez da chuva
também trouxe outro cenário à Zona da Mata. São extensões enormes de um
canavial formado por uma palha seca com cerca de 70 cm de altura. “Essa planta
era para estar com um metro e meio de altura. Só cresceu a palha por falta de
água. A parte da cana só tem 10 centímetros”, diz o fornecedor, Luiz Otávio
Coutinho, cuja família já foi uma das maiores produtoras de cana-de-açúcar em
Tracunhaém, na Mata Norte. Se chover, ele vai transformar a cana que não
cresceu em semente para plantar de novo.
Há quatro anos,
Luiz Otávio decidiu destinar uma parte maior da sua propriedade à criação de
gado. “O preço da cana caiu, diminuíram as usinas, foi tudo ficando mais
complicado. As secas constantes mostraram que é preciso diversificar. A cana
precisa de mais água do que o boi. Só vou plantar cana-de-açúcar onde posso
fazer irrigação de salvação. Hoje, 40% da área estão ocupados com gado nelore”,
afirma. Ele trabalha com a expectativa de ter uma redução de 25% comparando com
a última safra, quando colheu 30 mil toneladas. Este ano, ele arrendou uma
propriedade na qual esperava colher 1,8 mil toneladas por dois anos. A morte da
socaria provocou a perda total do canavial desse terreno.
O Rio Tracunhaém,
que passa próximo à propriedade de Luiz Otávio, secou. “A nossa intenção agora
é implantar 700 hectares de irrigação de salvação, sendo 200 hectares por cada
safra”, conta Luiz Otávio. O investimento total previsto é R$ 600 mil e o
objetivo desse tipo de iniciativa, como o nome diz, é colocar água suficiente
para não deixar a planta morrer.
Leia Também
Outro fato
inusitado dessa estiagem: chegou a região que apresenta maior índice
pluviométrico do Estado, a Mata Sul. “O regime de chuvas está mudando e menor.
De repente, chove muito apenas num local só, enquanto na propriedade vizinha
não cai uma gota de água. Os mananciais estão mais baixos”, diz o fornecedor de
cana-de-açúcar, Frederico Pessoa de Queiroz, que faz parte da terceira geração
da sua família no setor sucroalcooleiro. Ele tem uma propriedade em Xexéu, na
Mata Sul. “Em média, a precipitação pluviométrica é de 1.700 mm por ano na
propriedade. No ano passado, ficou em 1.063 mm. Se chover a partir de agora,
vamos ter uma perda de 10% da safra”, afirma.
Na moagem passada
2016/2017, Frederico registrou uma perda de 22%, colhendo 32 mil toneladas da
planta. “Nunca vi uma seca com tanta intensidade na Mata Sul”, diz. Além dele,
Felipe e Luiz também são a terceira geração da família que planta cana, o que é
muito comum na Zona da Mata de Pernambuco. Os fornecedores são responsáveis por
35% da cana do Estado. Há 10 anos, respondiam por 50% e já chegaram a plantar
73% do total cultivado.
“A única saída para
continuar plantando cana-de-açúcar na Mata Norte é a irrigação. Tem que ter
água ou procurar outra atividade”, diz o presidente da Associação dos
Fornecedores de Cana-de-Açúcar de Pernambuco (AFCPE), Alexandre Andrade Lima. A
entidade estima que a próxima safra terá uma redução média de 30% se começar a
chover a partir deste mês. Geralmente, os fornecedores de cana-de-açúcar são
mais atingidos pela estiagem do que as usinas, pois irrigam menos e não possuem
reservas de água nas propriedades.
ESCASSEZ
“Não existem mais
chuvas como ocorriam em 2011, quando a média na Mata Norte era de 1,6 mil mm.
Em 2015, essa média ficou em 825 mm em algumas regiões da Mata Norte”, diz o
presidente do Sindaçúcar, Renato Cunha. Segundo ele, para a próxima safra foram
realizados investimentos que poderiam resultar numa moagem de cerca de 13
milhões de toneladas da planta, o que não deve ocorrer por causa da falta de
chuvas.
A seca é mais um
capítulo que está contribuindo para a agonia do setor sucroalcooleiro. Existem
outros. “Os subsídios de preços à gasolina do governo Dilma e a importação de
etanol sem controle nos últimos dois anos foram outros fatores que prejudicaram
o setor”, resume um dos maiores especialistas, o presidente da Datagro, Plínio
Nastari. O que ele chama de subsídio foi a redução da tributação da gasolina
para fazer o preço do etanol ficar num mesmo teto. “Espero que os governos
estaduais e federal enxerguem a importância dessa atividade para o desenvolvimento
econômico, porque a crise desse setor está agravando a situação de um
trabalhador muito sofrido”, conclui.
A HISTÓRIA DE DIONALDO
As cidades da Mata
Norte têm atualmente uma gama de empresários que desistiram de cultivar a
cana-de-açúcar e se tornaram donos de pequenos negócios como postos de
gasolina, construtora, entre outros. É o caso de Dionaldo José Barata de
Oliveira que passou a ser fornecedor de cana-de-açúcar aos 16 anos, quando
assumiu a propriedade da família, em Nazaré da Mata, após a morte do seu pai em
1977. Era a terceira geração da família a viver da atividade.
“Minha vida era
focada na agricultura. Eram muitas usinas. Só em Vicência, tinha duas usinas
(Barra e Laranjeiras, a primeira fechou e a segunda continua). Em Nazaré, tinha
a Matary, que também fechou. Depois, começaram a se repetir os problemas: o
preço da cana caía. Se recuperava na outra safra, aí perdia parte do canavial
por causa da seca. Não tive mais condições de tocar a propriedade”, conta
Dionaldo, que chegou a produzir 5 mil toneladas por safra.
Ele vendeu a sua
propriedade. E, aos 52 anos, voltou a ser estudante num curso de edificações.
Ao mesmo tempo, comprou uma área urbana em Vicência, fez um loteamento e esse
foi o primeiro produto comercializado pela sua construtora.
De uma família
grande, “incluindo os primos, a família tinha 20 fornecedores de cana”...
E hoje ?
“Não tem mais
nenhum. Só tenho um primo que ainda planta cana. É Tonho Barata que fabrica
cachaça em Vicência. Na agricultura, construía divida. Numa seca desmanchava
tudo que tinha feito, o dinheiro que tinha sobrado. Ninguém se recupera de uma
estiagem em um ano ou dois. São no mínimo três anos. Tenho muita pena, porque
de seca em seca, vi gente que perdeu tudo”.
A seca é inocente, mas é criminosa; com os 2 textos: 1) seca no RN; 2) seca na zona da mata PE, e 4 fotos da indústria da seca, vamos, com conhecimento de causa e de Efeito desenvolver comentários à Luz da razão, para tentar convencer nossos visitadores de que a seca NE é desnecessária (vamos mostrar tecnologia redentora nas postagens seguintes) e que é uma desgraça hereditária que já tem mais de 400 anos, e a cada geração o estigma da seca arraigada em nossa cultura, em nossa literatura (bem patente nos textos acima) vão nos transformando (os nordestinos/BR) em criminosos; é que a seca cultural vai tolhendo nossa capacidade de "pensar" a ponto de criarmos nos últimos 20 anos, mais 16 modalidades de obras inúteis da indústria da seca, o que significa dizer que os idealizadores dessas MERDAS (da elite governamental, econômica, científica) tiveram os neurônios FUNDIDOS em um bolo Fecal, perfeitamente refletido nas "obras" da seca desprovidas de cognição, de associação de ideias, de racionalidade, de conhecimento científico.
ResponderExcluirA seca na Mata Norte de PE; trata-se da zona da mata nordestina aonde o Brasil nasceu; a ZMPE teve a Capitania hereditária (1.534) que mais prosperou; depois da BA, PE é o estado com maior quinhão de zona da mata; em 1.972 quando nós (FEMeA) iniciamos os trabalhos de pesquisa na ZMPE havia mais de 200 indústria relacionadas com o cultivo e transformação da cana de açúcar em rapadura, açúcar, álcool, aguardente, melaço, mel de engenho, mel bruto, empregando, direta e indiretamente nessas atividades, incluindo os industriais, mais da metade dos PE; 30 anos depois 80% dos campos de canaviais estavam inativos, fechando-se 80% das usinas e engenhos de cana de açúcar; a oferta de chuvas em 1.971,72,73,75,76,77, 78, 79, 81, 82, 83, 87, 88, 89, 91, 92, 93, 95, 96, 97, 98, 99 foi reduzida (na zona da mata PE) de média 2.000mm ao ano, para 1.000mm ao ano; no Início do Século XX produzia-se 100 toneladas de cana de açúcar por hectare, ou seja 100.000 kg:10.000m = 10 kg de cana por m², para 30 toneladas por hectare no Século XXI, sempre exigindo cada vez mais adubo químico que encarece a produção de cana de açúcar; 90% dos trabalhadores (famílias) da cana de açúcar de meados do Século XX foram INCHAR as capitais e cidades da zona da mata em RN-PB-PE-AL-SE, as famigeradas favelas - violência - prostituição, tráfico e consumo de drogas; no sistema de monocultura secular da cana de açúcar não se produz com menos de 1.500mm de chuvas por ano na zona da mata NE; as causas (artificiais) desse desastre social, ambiental, econômico são tantas (ver os efeitos) que não dão para ser relacionadas nesses comentário.
ResponderExcluirQuanto as imagens: 1) açude fantasma com um pouco de esperma no diabo no fundo; 2) construção de uma grande açude em 1.985, o maior entre outros 200 exemplares no rio Potengi e seus afluentes (todos secos, ou SALGADOS em 2.018); 3) uma placa sobre uma das obras inúteis, que inclusive é FALSAMENTE citada como solução no texto sobre a seca no RN - barragem subterrânea, que exite aos milhares no agreste e sertão NE; 4) cacimbão SECO, fantasma,uma das 20 obras da indústria da seca NE.
ResponderExcluirExiste aos milhares no agreste e sertão RN.
ResponderExcluirA ZMNE, aonde nasceu o BRASIL tem, hoje, o maior bolsão de miséria e violência do NE.
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